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Tipos de Contracções

Um potencial de acção conduzido ao longo de um nervo chega à placa motora, na qual é libertado um neurotransmissor, a acetilcolina. Esta vai atingir o sarcolema, que é a membrana plasmática da célula muscular, e nele desencadear, e de seguida propagar, um potencial de acção. Acontece então a despolarização da membrana que origina a saída de potássio e a entrada de sódio para o compartimento intracelular. Isto acontece porque o sarcolema contém canais de sódio dependentes da voltagem, que se abrem quanto há uma corrente positiva na fibra mus­cular. Há assim uma inversão de polaridade, passando de um potencial de cerca de - 85m V para cerca de + 50m V. O potencial de acção dura 2 a 3m/seg e é conduzido ao longo da membrana a cerca de 5m/seg.

Para que a contracção muscular seja homogénea, simultânea, o potencial de acção é propagado para dentro da fibra muscular ao longo dos túbulos transversos (T), que estão intimamente ligados ao retículo sarcoplasmático, local de armazenamento dos iões de cálcio. De seguida vai haver libertação súbita, quase síncrona do cálcio para o citoplasma da fibra muscular, para o sarcoplasma. No retículo sarcoplasmático o cálcio encontra-se em altas concentrações, sendo permanentemente bombeado a partir do citoplasma, com consumo de energia (ATP), evitando assim que o músculo esteja em contínuo estado de contracção.

A presença de cálcio no citoplasma é de primordial importância para a contracção muscular, pois ele vai ligar-se à troponina C, uma das proteínas musculares, fazendo com que a troponina I enfraqueça a sua ligação com a actina. Vão aparecer as ligações entre a actina e a miosina, originando o deslizamento da primeira sobre a segunda, por acção de tipo alavanca, de remar das pontes transversais, com consumo de ATP. Parece que o movimento dos remos acontece apenas nas pás dos remos e não no remo no seu todo. Há, assim, um encurtamentó do sarcómero, que constitui a unidade fundamental de contracção do músculo. Após a contracção acontece o relaxamento muscular que, resumidamente, consiste no bombeamento do cálcio citoplasmático para o retículo sarcoplasmático, libertação do cálcio da troponina C, originando uma impossibilidade de ligação das cabeças de miosina à actina. O sarcómero alarga-se, agora por deslizamento em sentido contrário entre os dois tipos de filamentos, e o músculo relaxa.

Da sobreposição entre todos os filamentos finos e grossos de um sarcómero, resulta o encurtamento do mesmo. A contracção muscular resulta simplesmente do encurtamento simultâneo de todos os sarcómeros de todas as fibras musculares que foram activadas sob um controlo voluntário dependente do sistema nervoso central. Mas o encurtamento global dos sarcómeros poderá não levar obrigatoriamente, e como veremos, a uma diminuição do comprimento muscular, e isto devido à existência de elementos elásticos e viscosos colocados em série com o aparelho contráctil. As contracções musculares dependem da quantidade de resistência que o músculo tem de vencer e da velocidade do movimento.

Contracção muscular isométrica

Este tipo de contracção caracteriza-se pelo facto de o comprimento total do músculo permanecer constante durante a contracção. Há sim, e necessariamente, encurtamento dos sarc6meros, com alongamento pro­porcional do tendão e dos componentes elásticos colocados em série. Dado que não há movimento neste tipo de contracção o trabalho realizado é igual a zero (trabalho = força X distância percorrida). É um tipo de contracção em que a carga ou resistência é igual à força aplicada, tendo como resultado final uma velocidade de movimento igual a zero. É importante notar que neste tipo de contracção os ganhos de força apenas acontecem para valores angulares próximos do ângulo articular em que a contracção isométrica se realiza.

A força desenvolvida aumenta progressivamente até alcançar um valor máximo, sendo a duração da contracção limitada pelo esgotamento energético. O metabolismo energético envolvido é o metabolismo anaeróbio.

As contracções musculares do tipo isométrico são importantes para a vida quotidiana, pois permitem a manutenção postural ortostática de todos nós, proporcionada pela contracção dos músculos paravertebrais.

Os músculos fixadores qu estabilizadores articulares adoptam também este tipo de contracção. Veja-se o caso dos músculos rombóides que ao estabilizarem a omoplata facilitam o funcionamento da articulação do ombro.

Para além de obstruírem o fluxo sanguíneo para o músculo em causa quando a contracção é demasiado intensa, as contracções isométricas originam a elevação da tensão arterial, sistólica e diastólica, sobrecarregando o coração em termos de pressão. A manobra de Valsalva é outra das situações que poderá surgir aquando da realização de exercícios isométricos, a qual tem influência no retomo venoso para o coração, diminuindo-o.

Contracção muscular isotónica

Por definição, este tipo de contracção acontece contra uma carga constante, sem variação da tensão muscular, de que resulta uma alteração da localização das extremidades do músculo. Associada à alteração do comprimento do sarcómero, há também alteração do comprimento muscular. Trata-se de um tipo de contracção que apenas existe no modelo teórico, pois na vida prática as contracções acontecem com modificação do comprimento do músculo e da tensão muscular desenvolvida no seu interior.

A velocidade de alteração do comprimento muscular é inversamente proporcional à carga aplicada.

Classificação das contracções musculares isotónicas:

a) Concêntrica ( isodinâmica ou alodinâmica) b) Excêntrica c) Isocinética

a) - A contracção muscular concêntrica acontece quando há diminuição do ângulo articular, há encurtamento muscular, realizando-se trabalho positivo. Relativamente aos outros tipos de contracção, é neste tipo que acontece o menor valor tensional no interior do músculo.

a) i - A contracção isodinâmica seria a contracção isotónica típica onde a força de contracção seria igual para todos os ângulos articulares.

a) ii - Na contracção muscular alodinâmica a força muscular desenvolvida varia ao longo do movimento angular, por variar também o comprimento dos braços da alavanca envolvida. A força máxima só acontece em alguns ângulos articulares, quando os braços da alavanca são mais favoráveis. Na vida prática a maioria das contracções incluem-se neste grupo.

b) A contracção muscular excêntrica caracteriza-se pelo alongamento muscular para além do seu comprimento em repouso. Diz-se então que há realização de trabalho negativo. Este tipo de contracção é importante para a estabilização da articulação, impedindo flexões ou extensões exa­geradas.

A actividade da unidade motora é dupla daquela que acontece na contracção concêntrica, daí parecer ser a mais eficiente para o desenvolvimento muscular. Segundo alguns autores é também mais eficiente que a contracção isométrica.

c) Na contracção isocinética, como o seu nome indica, a velocidade angular é constante e mantida por sistemas/aparelhos especiais, com acomodação constante de resistência. É um tipo de contracção em que há encurtamento muscular.

A sua utilidade parece residir na recuperação de lesões, já que a velocidade constante do movimento não se identifica com a realidade desportiva, pois nesta não há constância na velocidade dos movimentos articulares. Tem sim interesse para a recuperação de lesões, dado que permite utilizar cargas elevadas em movimentos com velocidade controlada.

O sistema isocinético, cujo modelo comercial talvez seja mais conhecido é o Cybex, é bastante utilizado na avaliação da força muscular dos diversos segmentos corporais.