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Adaptações fisiológicas

Um atleta, bem ou mal treinado, sujeito a cargas superiores aquelas que diariamente utiliza, vai sofrer uma adaptação muscular traduzida por um aumento de força e, eventualmente, por um aumento do volu­me (hipertrofia muscular).

Esta hipertrofia das fibras musculares existentes deve-se a um aumento da captação de aminoácidos e subsequente síntese proteica. É atribuída a um maior número de ftlamentos de actina e de rniosina (miofilamentos), o que origina uma área transversal muscular maior, principalmente nas fases mais avançadas do treino. Parece ser a tensão. que se desenvolve dentro do músculo, quando sujeito a uma carga ele­vada, o estímulo para esta hipertrofia.

Em relação à existência ou não de hiperplasia (aumento do número das fibras musculares) a controvérsia é enorme. A maioria dos autores nega a sua existência, enquanto outros a afirmam, pelo menos em estu­dos efectuados em animais. Estes trabalhos que concluem pela existên­cia de hiperplasia muscular com o treino têm sido criticados pelos métodos adoptados. Entretanto a investigação continua e uma nova en­tidade começa a ser falada. São as células satélites situadas entre o sar­colema e a membrana basal da célula muscular. Dizem os autores que estas células poderiam contribuir para a regeneração e hipertrofia da cé­lula muscular. A sua transformação em rnioblastos e depois em miotú­bulos iria originar novas fibras (hiperplasia). São conclusões simpáticas e atraentes que o futuro esclarecerá melhor.

As características do estímulo que se faz sentir sobre determinado músculo vai determinar o tipo de fibra muscular que mais se vai desen­volver, ou seja, a hipertrofia muscular é relativamente específica para as fibras treinadas. Todos os estudos efectuados parecem indicar uma relação entre desenvolvimento das fibras musculares de contracção len­ta, e consequente aumento relativo da sua superfície, com o treino de endurance, de características aeróbicas. Existe também uma relação entre o desenvolvimento das fibras de contracção rápida, FT ou tipo II, com um inerente aumento da superfície relativa dentro do músculo, com o treino de força, anaeróbico, isométrico por exemplo. Há assim uma hi­pertrofia selectiva, com as alterações correspondentes das actividades enzimáticas, induzida pelo tipo de treino.

Os estudos referem que perante um treino de força, de característi­cas anaeróbicas, há desenvolvimento dos dois tipos de fibras (1 e lI), mas o aumento é maior nas do tipo lI. Desta hipertrofia selectiva pode­rão os atletas recolher dividendos. Se se pretender um maior desenvol­vimento das fibras tipo II, o treino deverá ser composto por um volume ba!xo e cargas altas, originando-se um grande ganho na força. Já o trei­no com volumes altos e cargas baixas irá desenvolver principalmente as fibras do tipo L Exceptuando-se as situações de treino para desportos específicos (o treino de força para o halterofilismo, por exemplo), o treino intervalado ou o treino com estações parece ser o mais adequado para o desenvolvimento global do músculo, porquanto estimula os dois tipos de fibras musculares. Assim, correndo um minuto alternadamente de­pressa e devagar, haverá também altemadamente a entrada em funcio­namento do metabolismo anaeróbico e do aeróbico, predominantes em cada um dos tipos de fibras musculares que naquela altura estão a ser estimulados.

O treino de desenvolvimento muscular induz adaptações de acordo com as suas características. Poderá originar volumes musculares maio­res ou menores, ganhos superiores em força ou em endurance, ou seja, ele deverá ser prescrito de acordo com a finalidade ou desporto em causa. Vejamos o caso do treino de potência, que utiliza cargas moderadas a altas e velocidades de contracção altas. Em atletas treina­dos, e provavelmente porque o tempo de activação é muito curto para induzir crescimento muscular, não se verifica hipertrofia muscular sig­nificativa. Hakkinen refere a utilidade desta conclusão indicando as van­tagens que poderá ter nos desportos onde não se pretenda um aumento significativo da massa muscular, o mesmo é dizer do peso corporal, susceptível de interferir com o desempenho desportivo. Seria o caso dos ciclistas que têm necessidade de associar a um peso baixo uma capacidade de desenvolvimento de força grande. No treino de potência o ganho de força é menor do que quando se utilizam cargas grandes no exercício.

Os ganhos obtidos com o treino de desenvolvimento muscular são diferentes nos atletas treinados e nos atletas iniciadores. Aqueles têm mais dificuldades em melhorar o seu nível de força. Há estudos que as­sim o demonstram e num deles demonstra-se que os indivíduos com um nível de força baixo, com três meses de treino intenso, tiveram uma evo­lução bastante superior àquela observada nos atletas de elite, após seis meses de treino. Poder-se-á concluir, então, que os indivíduos não trei- : nados têm um potencial de desenvolvimento muscular bastante mais ele­vado, exigindo programas de treino menos elaborados, enquanto os atletas de elite necessitam de programas mais individualizados dado pos­suírem um potencial de crescimento menor.

Parece ser crença generalizada, e de acordo com os trabalhos efec­tuados, que os maiores aumentos na força muscular constatados na fase inicial do período de treino, em indivíduos previamente não treinados, durante as primeiras semanas de treino intenso são devidos a adapta­ções neurológicas, em que há uma activação neurológica máxima dos músculos sujeitos a treino. A conclusão de que seja a adaptação neuro­muscular a responsável pelo aumento de força na fase inicial do período de treino surge devido à constatação de que o principal aumento da área transversal muscular (hipertrofia) acontece apenas numa fase mais tar­dia, e de que os pequenos aumentos que inicialmente se verificam não seriam suficientes para justificar o maior aumento da força que logo de início acontece. Há um estudo que refere um aumento inicial de força igual a II % , e posteriormente, na segunda fase do treino, de 6,6 %, en­quanto a área transversal muscular apenas aumentou 3,1 % e 5,3% na primeira metade e na segunda metade, respectivamente. Este estudo acaba por constatar que há um maior aumento da força na fase inicial do pro­grama de treino, enquanto o maior aumento da área transversal apenas acontece na segunda. Uma contribuição cada vez maior da hipertrofia muscular acompanhará um maior aumento da força durante as subse­quentes semanas de treino. Parece que os músculos destreinados vão usar a sua reserva funcional e assim activarem totalmente os seus mús­culos. Já para os atletas os estudos referem que tal não acontece, e as conclusões indicam que se um atleta treinado utilizar cargas de 70%-80% do máximo haverá, inclusivamente, diminuição da activação neurológi­ca. Estes trabalhos concluem que se forem utilizadas cargas correspon­dentes a 85%-90% da carga máxima ou superiores, a activação neurológica aumentará. São resultados de uma importância prática fun­damental e deles se poderá concluir que o atleta treinado deverá perio­dicamente variar a sua carga de treino e/ou adoptar níveis progressivamente maiores para manter uma activação neurológica má­xima. É esta uma das razões para a chamada «periodização dos treinos», escolhendo os chamados “picos de forma», neste caso em relação à for­ça muscular, para os períodos mais necessários, mais competitivos ou mais decisivos.

Em relação à hipertrofia muscular que acontece após as primeiras semanas de treino, e segundo Hakkinen, apenas acontece durante os três primeiros meses de treino, não se observando aumentos nas áreas das fibras musculares nos meses posteriores. É nesta altura que as espe­culações sobre a hiperplasia muscular são algumas e os resultados não conclusivos.

Assim como o treino induz desenvolvimento muscular, também a paragem do mesmo originará diminuição da força muscular, de início provavelmente devido à diminuição da actividade neurológica e poste­riormente devido à contribuição da atrofia muscular.

Apesar de a contracção excêntrica ser considerada pela maioria dos autores como sendo a mais eficaz para o treino muscular, há no entanto outros autores que preferem ser mais cautelosos na adopção de conclu­sões, pois consideram que diferentes resultados se poderão dever a di­ferentes programas de treino (número de contracções musculares por treino, duração e frequência das sessões, etc.) e ao diferente estado físi­co antes de se iniciarem os trabalhos. De igual modo, e de acordo com os trabalhos efectuados, a eficácia dos três métodos (concêntrica, ex­cêntrica eisométrica) é idêntica no desenvolvimento de força muscular nas primeiras 4-8 semanas de treino, altura em que mais facilmente a força muscular aumenta, desde que o músculo seja confrontado com car­gas acima dos valores habituais. Neste período inicial os aumentos da força são facilmente atingidos, observando-se aumento de 10 ou mais por cento em indivíduos não treinados logo nas primeiras semanas. Mas a partir deste período a eficácia das três técnicas parece ser diferente. No mesmo estudo, a modalidade contracção concêntrica-excêntrica, na qual 50 % das contracções musculares do exercício eram concêntricas e as restantes excêntricas, foi a mais eficaz.

Quando o treino muscular adopta contracções concêntricas com car­ga elevada e velocidade de movimento baixa há ganhos principalmente ria força muscular máxima. À medida que a carga diminui e a velocida­de de contracção aumenta os ganhos em força máxima irão diminuindo. Como já foi referido, uma descontinuidade no treino originará uma per­da de força máxima, proporcional à carga que era utilizada durante os treinos.