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Fisiologia muscular

A fisiologia muscular é um mundo fantástico de fenómenos, de acções e reacções momentâneas e consentâneas. Um músculo, inserido nos pontos ósseos, não está nunca em repouso, mesmo durante o sono. Há uma permanente contracção ligeira e sustentada, que não é suficiente para produzir trabalho, identificada por todos como uma sensação ligeira de aperto a nível muscular. Esta propriedade inerente a todos os grupos musculares esqueléticos é o tónus muscular. Vimos já que o músculo, mesmo no estado a que vulgarmente se chama repouso, está sujeito a um pequeno estiramento, é possuidor de uma tensão passiva, o que faz com que o músculo tenha uma vontade permanente de se contrair para anular este ligeiro alongamento. É o que acontece quando o libertamos das suas inserções ósseas: o músculo adopta imediatamente um determinado comprimento de equilíbrio. Nesta situação não há nenhuma força externa a actuar nele e a sua força muscular é igual a zero. Se fizermos o alongamento do músculo, a tensão passiva (tensão existente num músculo em repouso, não sujeito, portanto, a contracção activa) cresce progressivamente, de início moderadamente e depois mais rapidamente a partir do comprimento de repouso. Este corresponde a cerca de 125 % do comprimento de equilíbrio.

Se o alongamento é cerca de 3 vezes o comprimento de equilíbrio, a tensão passiva atinge o valor máximo e ocorre rotura muscular. Quando existe contracção muscular com a realização de um determinado movimento, o que se passa realmente a nível muscular é a instalação de uma contracção isométrica num determinado comprimento muscular.

Se isto acontece, vê-se aparecer uma tensão activa para um comprimento muscular inferior a cerca de 40% do comprimento de equilíbrio, a qual aumenta progressivamente até um determinado comprimento muscular, que é igual ao comprimento de repouso. O somatório da tensão activa, desencadeada pela contracção isométrica, e da tensão passiva, originada no alongamento muscular, dar-nos-á a força total ou útil, que é a força contráctil para a realização de trabalho.

A tensão muscular máxima obtém-se com comprimentos musculares iguais aos do repouso, o que significa que há a máxima sobreposição útil entre os filamentos finos e grossos.

Se o músculo é alongado para além do comprimento de repouso, haverá menos sobreposição dos filamentos de actina e de miosina, com consequente redução do número das pontes transversas. Por outro lado, se houver sobreposição dos filamentos de actina, como acontece quando o músculo é mais curto que o comprimento de repouso, o número de ligações transversais também diminui.

Estes conceitos são extremamente importantes para a prescrição de exercícios isométricos quando a finalidade é obter um rendimento máximo.

Importa referir que esta relação tensão-comprimento muscular se verifica principalmente nos músculos brancos. Estes músculos têm alta actividade ATPase, são músculos rápidos, mais propensos à fadiga, e executam os movimentos finos e delicados, como por exemplo os movimentos dos dedos das mãos.

Já para os músculos vermelhos, que são músculos lentos preparados para contracções longas e para a manutenção da postura (exemplo: músculos da região dorsolombar), não têm um comprimento muscular óptimo para o desenvolvimento da força muscular máxima, mas sim uma amplitude de comprimento, no interior da qual a força máxima permanece inalterável, independentemente do comprimento muscular.

Também para a velocidade de contracção muscular se poderia estabelecer uma relação com o comprimento da fibra muscular. Para a mesma carga a que o músculo é sujeito, verifica-se que a velocidade de contracção é máxima para o comprimento muscular de repouso e diminui se o comprimento muscular aumentar. ou diminuir.

A velocidade de encurtamento muscular varia na razão inversa da tensão desenvolvida. Por exemplo, na contracção isométrica, em que a velocidade do movimento é mínima (igual a zero), a tensão que se obtém é máxima; mas, por outro lado, a velocidade do movimento só poderá ser máxima quando a tensão desenvolvida seja mínima, o que corresponde a uma ausência de carga. Deste conceito conclui-se que se o atleta pretender efectuar um treino de força deverá adoptar um esquema em que movimente cargas elevadas com velocidade de movimentos baixa. Mas se o atleta pretender gestos desportivos rápidos e explosivos terá de efectuar exercícios com velocidades elevadas e cargas proporcionalmente baixas. Estas últimas são os parâmetros do treino de potência.

Potência = Força x Velocidade

Desta fórmula conclui-se que a velocidade só poderá ser alta se a carga movimentada, ou seja, tensão desenvolvida, for baixa. Também se poderá concluir que para que o rendimento seja óptimo é necessário uma adaptação permanente entre a velocidade do movimento e a tensão desenvolvida. O ciclista é talvez o atleta que melhor sabe explicar este conceito. Nas subidas, para que a fatigabilidade seja menor, e porque a carga é maior e a velocidade de pedalar é necessariamente menor, ele utiliza um carreto mais leve, de maior diâmetro, com 21 dentes, o que origina uma menor resistência e uma maior velocidade no pedalar (cerca de 60-70 pedaladas/minuto) perante uma carga sentida como menor. Nas descidas acontece o contrário, e então ele vai utilizar um carreto mais leve, de menor diâmetro, o mais pequeno dos quais tem apenas 12 dentes.

Nas contracções musculares excêntricas, e segundo autores, a variação entre tensão e velocidade de movimento é directa, ou seja, até a um valor considerado óptimo, a um aumento da velocidade de contracção corresponde um maior desenvolvimento da tensão muscular.

A força de contracção desenvolvida por um músculo não é totalmente transformada em movimento articular, pois uma percentagem dessa força tem de ser utilizada para compensar a força de resistência ao estiramen­to desenvolvida pelas forças miotendinosas não contrácteis (tendão, ex­tremidades do sarcolema e provavelmente os braços das dobradiças das pontes transversais). Mas também os elementos elásticos (por exemplo do bicípede braquial), durante a contracção excêntrica (extensão do cotovelo), tornam-se estirados produzindo um trabalho negativo. Daqui advém a conclusão da importância das técnicas de estiramento para a me­lhoria da flexibilidade, cujo aumento permite uma maior deformidade da unidade miotendinosa, imediatamente antes do encurtamento súbito fundamental, por exemplo, nos lançamentos e saltos.

Os movimentos coordenados, quer no tempo quer no espaço, de uma articulação dependem, para além de uma integridade anatómica, da acção de vários grupos musculares. Os músculos que realizam um determinado movimento são chamados agonistas; aqueles que desenvolvem o movimento oposto são chamados antagonistas, os quais permitem e controlam o aumento progressivo da amplitude do movimento. Para que esta não seja limitada é necessário uma boa flexibilidade dos músculos antagonistas. Para além destes dois grupos musculares existem, e apenas a título informativo, os músculos sinérgicos e os fixadores. Os primeiros colaboram na realização do movimento, evitando movimentos parasitas. Os segundos permitem a acção total do grupo muscular principal através da fixação do seu ponto de origem, como é o caso do músculo rombóide que, ao fixar a omoplata, permite a acção dos músculos do ombro. Duma maneira geral são os músculos flexores, que aproximam as extremidades ao centro do corpo, os mais solicitados. A evolução natural está orientada para uma diminuição progressiva da expansão do indivíduo. Importa, portanto, contrariar esta tendência, provocando a abertura activa das articulações e alongar as massas musculares através da realização de exercícios de alongamento.

O tendão, apesar de ser um elemento pouco determinante na amplitude do movimento articular, também pode ser alongado, tudo dependendo do stress a que é sujeito, bem como da velocidade a que o estiramento é efectuado. O aumento de comprimento sobre o comprimento original do tendão a multiplicar por 100 dá-nos a percentagem de alongamento. Vimos anteriormente que o tendão não alongado apresenta a sua elastina com um aspecto pregueado, o qual desaparece com um stress de 2,0% a 3,0%, proporcionando uma elongação permanente. As fibras de colagénio não são uniformes em diâmetro, nem em força tensional ao longo do tendão. Um stress superior a 5,0 % é suficiente para romper as fibras de colagénio mais fortes. No entanto, para que haja rotura completa do tendão, o stress terá de ser superior a 10%. É importante não esquecer, contudo, que a força tensional nas inserções tendinosas, osso ou músculo, é menor que a verificada no tendão. Daqui resulta que as lesões poderão aparecer com forças tensionais inferiores. Também a conjugação de uma contracção demasiado intensa e de um estiramento exterior enérgico pode levar à rotura de um tendão, de algumas fibras musculares ou a um arrancamento ósseo.

Finalmente importa referir que a elasticidade da unidade miotendinosa é proporcional à relação músculo-tendão: quanto maior esta relação, maior a elasticidade. Verificam-se mais lesões a nível tendinoso, o qual possui uma menor compliance.